Operação Justiça Rápida Itinerante garante inclusão do nome ancestral Wayuru em registros, corrigindo distorções históricas do ciclo da borracha.
Justiça Garante Reconhecimento Étnico a Indígenas de Rondônia em Ação de Reparação Histórica
Operação itinerante atende comunidades Wayuru, Sakurabiat e Guarasugwe, incluindo etnia nos documentos e resgatando identidade cultural após décadas de invisibilidade.
ALTA FLORESTA D'OESTE/RO – Aos 85 anos, Maura Wayuru Ibanez, a anciã mais velha do povo Wayuru, realizou um sonho que atravessou gerações: ter sua etnia oficialmente reconhecida em seu registro civil. O momento histórico ocorreu durante a Operação Justiça Rápida Itinerante (JRI), realizada no distrito de Rolim de Moura do Guaporé, a 700 km de Porto Velho.
A emoção da conquista foi temperada pela lembrança de uma história de apagamento cultural. Valda Wayuru Braga, filha de Maura e cacique do território Wayuru, explicou a origem do problema: "No ciclo da borracha, as aldeias foram invadidas, e nós indígenas, como a minha avó, tivemos o nome dos seringalistas. Eles colocavam o nome deles no nome do povo indígena, como uma coisa de posse".
Luta Coletiva por Identidade
A iniciativa partiu de uma demanda conjunta das três etnias da região - Sakurabiat, Wayuru e Guarasugwe. Francisco Ibanez Wayuru, presidente do Conselho de Saúde Indígena local, destacou que "isso vai servir para o futuro dos nossos filhos e como uma marca, uma identificação dos indígenas em relação à sua origem".
Entre os 120 atendimentos realizados durante a operação, que incluiu ações de família e direito civil, destacou-se o caso de Jorge Gomes Monteiro Sakurabiat Wayuru, que herdou a etnia tanto da mãe quanto do pai.
Preservação Linguística e Cultural
A ação judicial também reforçou a importância da preservação da língua Wayuru. Ana Délia Wayuru Braga, professora da língua materna, comemorou: "Conseguimos o contrato para duas professoras ensinarem a língua Wayuru. As crianças que estão nascendo já vão aprendendo a falar e a escrever na nossa língua".
Segundo a defensora pública Lúcia Pereira Bento Moreira, a operação corrigiu distorções históricas: "Além de incluir o sobrenome, também pudemos alterar letras que não respeitavam o alfabeto indígena, cuja fonética saía diferente".
Reparação Histórica
Para o juiz Guilherme Ferreira, que acompanhou a operação, cada documento representa mais que um ato burocrático: "A inserção do sobrenome indígena no registro civil não é apenas uma formalidade; é cidadania, dignidade e identidade. Representa o reconhecimento da diversidade cultural e étnica e o sentimento de pertencimento do povo à sua história".
O caso de Maura simboliza a correção de uma injustiça histórica que remonta ao período da borracha, quando nomes ancestrais foram substituídos por sobrenomes de seringalistas, apagando identidades que agora ressurgem com força nos documentos oficiais.

0 Comentários