No início deste ano, o café registrou a maior inflação acumulada em 12 meses desde o lançamento do Plano Real, cenário que refletiu anos consecutivos de problemas climáticos, como calor intenso e estiagem prolongada, que comprometeram a produtividade das lavouras brasileiras.
Segundo o pesquisador Renato Garcia Ribeiro, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), apesar de a safra atual contar com clima mais favorável, os cafezais ainda não se recuperaram totalmente das perdas recentes. “Grande parte das áreas produtivas segue em processo de recuperação, o que limita o aumento da oferta”, explica.
Queda gradual e oferta restrita
Os dados mais recentes indicam que a retração dos preços já começou, ainda que de forma tímida. Em agosto, o café registrou queda de 0,23%, o primeiro recuo mensal desde dezembro de 2023. Para os analistas, o movimento reflete uma acomodação do mercado, mas não um alívio estrutural.
De acordo com Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, as perspectivas climáticas para o fim de 2025 e início de 2026 são positivas, especialmente durante a fase de florada das lavouras. Caso o regime de chuvas se mantenha regular no primeiro trimestre do próximo ano, a produção de café arábica pode crescer e ajudar a recompor parte dos estoques globais.
Até que esse cenário se concretize, porém, a oferta continuará restrita. A colheita começa em abril, mas o café só chega ao mercado em volumes significativos a partir de setembro, mantendo os estoques pressionados ao longo do ano.
Bienalidade e impactos do clima
Outro fator que limita uma queda mais acentuada dos preços é a bienalidade do café, característica do cultivo em que anos de maior produção costumam ser seguidos por colheitas menores. Em 2026, muitos ramos ainda estarão em fase de desenvolvimento, o que reduz o potencial produtivo.
Além disso, episódios recentes de geadas e atraso no início das chuvas em regiões produtoras, como o Cerrado Mineiro, reforçam a incerteza climática. Mesmo após bons volumes de chuva no fim de 2024, períodos prolongados de calor e seca no início de 2025 comprometeram parte da safra.
Demanda firme e estoques baixos
Do lado da demanda, o consumo global segue em crescimento, enquanto os estoques permanecem reduzidos no Brasil e em outros grandes produtores. O Itaú BBA projeta que apenas na safra 2026/2027 a produção mundial poderá superar o consumo, com um excedente estimado em cerca de 7 milhões de sacas.
Até lá, o mercado segue pressionado, com impacto adicional do aumento das compras dos Estados Unidos após o fim da tarifa de 50% aplicada ao café brasileiro. Segundo analistas, grande parte da safra atual já está comprometida com contratos fechados, sem margem para atender novos compradores.
Avanço do café robusta
Em meio às dificuldades climáticas, produtores têm ampliado investimentos no café robusta, variedade mais resistente ao calor e à seca. Embora menos valorizado que o arábica, o robusta vem ganhando espaço, especialmente na composição de cafés do tipo blend, que misturam os dois grãos.
Esse movimento já contribui para reduzir custos na indústria, mas os efeitos para o consumidor final tendem a aparecer apenas no médio prazo, já que uma lavoura de café leva cerca de dois anos para entrar em produção.
Para os especialistas, o uso maior de robusta ajuda a atravessar o período de escassez do arábica, mas não elimina a pressão sobre os preços no curto prazo.
Texto reescrito por: Rondônia na Rede

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