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Fórum de Segurança Pública condena operação no Rio que deixou mais de 120 mortos

Entidade, que reúne especialistas e policiais, critica a falta de planejamento e a condução "política" da ação nos complexos da Penha e do Alemão, classificando-a como "morticínio".



RIO DE JANEIRO – O Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), uma das principais organizações não governamentais do setor no país, emitiu uma nota pública condenando veementemente a megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A ação, uma das mais letais da história do estado, resultou na morte de mais de 120 pessoas e na apreensão de 118 armas, a maioria fuzis.

Em seu posicionamento, a entidade destacou que a operação, batizada de "Contenção", foi conduzida mais por um "viés político" do que por uma "racionalidade técnica". O Fórum alerta que, sem uma estratégia integrada de inteligência e investigação financeira, o crime organizado se reorganizará rapidamente, anulando os efeitos da ação.

Crítica de quem está dentro do sistema

O FBSP foi enfático ao lembrar que é integrado por mais de 230 profissionais, incluindo policiais, pesquisadores e representantes da sociedade civil. A entidade argumenta que sua crítica não é contra as instituições policiais, mas uma defesa de que a segurança pública deve ser um direito universal e exercida com planejamento.

“Portanto, não falamos por sermos contra as instituições policiais, muito pelo contrário. Falamos por defendermos, de forma transparente, que segurança pública é um direito social universal e condição básica para o exercício da cidadania”, afirmou a entidade em nota.

Estratégia questionada e cenas de horror

Um dos pontos mais criticados pelo Fórum foi a forma como os corpos foram resgatados. Imagens e relatos mostraram moradores carregando dezenas de corpos para a Praça São Lucas, na Penha, após os corpos terem sido deixados em uma área de mata.

A entidade classificou a cena como uma prova da falta de observância às regras básicas da legislação. “Pior, foi a forma como dezenas de corpos foram deixados na mata próxima ao Complexo de Favelas, sem nenhuma ação para isolamento e preservação da cena de crime. Não é sobre ideologia, é sobre a observância da lei”, destacou a nota.

Alerta sobre o futuro do combate ao crime

O Fórum reconheceu que o Comando Vermelho, facção que domina a região, representa uma "ameaça real ao Estado de Direito" e precisa ser enfrentado. No entanto, a entidade questiona a eficácia de operações de alto impacto sem um trabalho de inteligência continuado.

A nota faz um alerta sombrio: “Sem coordenação federativa e investimentos massivos na interconexão entre investigação criminal e inteligência financeira [...] os mortos de ontem, muitos dos quais eram crianças em 2010 quando da última grande operação no Complexo do Alemão, serão rapidamente repostos pelo crime organizado, que não será afetado pela operação de ontem”.

A crítica do Fórum Brasileiro de Segurança Pública joga luz sobre o debate entre a eficácia imediata e a estratégia de longo prazo no combate ao crime organizado no Brasil, questionando o custo humano e a real efetividade de operações com um número tão elevado de vítimas

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