Últimas notícias

6/recent/ticker-posts

Berçário de Tartarugas da Amazônia em Risco: Mudanças Climáticas Ameaçam Nascimento de Filhotes no Vale do Guaporé

 


 Atraso na desova e caça predatória reduziram sobrevivência de filhotes de 1,4 milhão para 350 mil em Rondônia. Biólogos temem que ciclo natural esteja comprometido.

O maior berçário de tartarugas de água doce do Brasil, localizado no Vale do Guaporé em Rondônia, enfrenta uma crise sem precedentes. O atraso na desova da tartaruga-da-Amazônia - o maior quelônio de água doce da América do Sul - alerta especialistas para os impactos das mudanças climáticas e da ação humana na reprodução desta espécie símbolo da biodiversidade amazônica.

O Fenômeno que Preocupa Biólogos

Normalmente entre agosto e setembro, as praias do Rio Guaporé já estariam cobertas por milhares de tartarugas em processo de desova. Porém, em 2025, o cenário se repete preocupantemente similar ao de 2024: praias ainda alagadas, ninhos submersos e desova significativamente atrasada.

O biólogo Deyvid Muller explica a gravidade da situação: "Os problemas climáticos que ocorreram no último ano transcenderam para este. Com isso, podemos observar que tais impactos têm efeito maior do que se imaginava, pois não afetaram apenas o ano do ocorrido, mas talvez todo um ciclo natural. Não sabemos quando o ciclo voltará ao normal, ou mesmo se voltará."

Por Que a Desova Está Atrasada?

Especialistas apontam quatro fatores principais que estão alterando o ciclo reprodutivo das tartarugas:

  1. Chuvas Fora de Época: O inverno amazônico chegou mais cedo, com chuvas persistentes desde agosto

  2. Queimadas Ilegais: A fumaça bloqueia a luz solar e altera a temperatura da areia das praias

  3. Nível do Rio Elevado: As águas do Guaporé permanecem altas, alagando os locais de desova

  4. Menor Exposição Solar: Essencial para a termorregulação desses animais de "sangue frio"

Números que Assustam

Os dados do Ibama revelam uma queda drástica na sobrevivência dos filhotes:

  • 2023: Mais de 1,4 milhão de filhotes nascidos

  • 2024: Expectativa de 700 mil, mas apenas 350 mil sobreviveram

  • 2025: Previsão desfavorável devido ao atraso na desova

Áquilas Mascarenhas, chefe do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) em Porto Velho, confirma: "Muitos animais, inclusive, nem conseguirão realizar a postura neste ano."

Esforços de Conservação em Andamento

Diante deste cenário crítico, uma rede de proteção tenta minimizar os impactos:

  • Ecovale: Associação comunitária que resgata filhotes ameaçados pela subida do rio

  • Ibama: Prioriza fiscalização do rio e proteção das praias de desova

  • Sedam: Realiza campanhas educativas contra caça e queimadas

  • Exército: Atua no policiamento de fronteira para coibir crimes ambientais

José Soares Neto, fundador da Ecovale, resume a missão: "Nossa ideia é aumentar a taxa de sobrevivência desses filhotes."

Alerta para o Futuro

O deputado Ismael Crispin, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, destaca que "essa realidade representa uma séria ameaça ao equilíbrio do ecossistema local e exige resposta rápida e coordenada das autoridades competentes."

Com cada fêmea podendo viver mais de 100 anos e atingindo a maturidade apenas aos 30, a proteção desses gigantes amazônicos representa um compromisso com as gerações futuras e com a preservação de um patrimônio natural único no mundo.


Fonte: Secretaria de Comunicação da Assembleia Legislativa de Rondônia

Postar um comentário

0 Comentários