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Governança frágil: o desafio das empresas familiares que expandem sem evoluir


Porto Velho, RO - O crescimento de uma empresa familiar é, sem dúvida, motivo de celebração. No entanto, à medida que a operação se expande, os desafios se multiplicam, e nem sempre a liderança está preparada para enfrentá-los.

Em muitos casos, o que era antes um modelo de gestão eficiente em uma estrutura enxuta, torna-se um gargalo quando a empresa atinge um novo patamar.

O que vemos, então, é um crescimento descompassado: a organização avança, mas a governança familiar permanece estagnada.

Com ampla experiência no ambiente corporativo, atuando como Advisor à frente da MORCONE, Carlos Moreira tem auxiliado e orientado empresas, especialmente empresas familiares brasileiras a se estruturarem para chegar aos 100 anos.

Neste artigo, o especialista aborda sobre o desalinhamento entre escala e liderança, o que se torna um sinal claro de fragilidade na governança.

Quando a empresa cresce, mas a mentalidade de liderança não evolui

É comum que, em empresas familiares, os fundadores permaneçam no comando mesmo após a empresa atingir níveis mais complexos de operação.

Essa continuidade tem seu valor histórico e emocional, mas, muitas vezes, a forma de liderança não evolui na mesma velocidade da empresa.

A centralização das decisões, a falta de processos formalizados e a resistência à delegação são sintomas típicos.

Líderes continuam atuando como “heróis operacionais”, resolvendo problemas urgentes, em vez de pensar estrategicamente.

Segundo pesquisa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), 65,3% das empresas brasileiras já adotam práticas de governança corporativa, mas ainda de forma tímida ou informal, principalmente entre as empresas familiares.

O problema se agrava quando o crescimento da empresa não é acompanhado por uma liderança autêntica, preparada para lidar com o novo nível de complexidade.

Isso pode significar a perda de oportunidades, aumento de conflitos internos, falhas operacionais e dificuldade para atrair talentos qualificados.

Os perigos da governança informal em momentos de expansão

Na ausência de uma governança estruturada, o crescimento deixa de ser sustentável.

O improviso, que no passado era visto como flexibilidade, passa a gerar riscos operacionais e estratégicos.

A tomada de decisão sem embasamento técnico, os conflitos de interesse não gerenciados e a ausência de prestação de contas são consequências diretas da governança informal.

Empresas que crescem sem amadurecer sua governança costumam enfrentar os seguintes desafios:

  • Dificuldade para atrair investidores ou novos sócios;
  • Problemas na sucessão familiar;
  • Falta de clareza nas funções e responsabilidades;
  • Risco de decisões emocionais ou impulsivas;
  • Perda de competitividade frente a empresas mais profissionalizadas.

A diferença entre comandar uma equipe e liderar uma organização em escala

Gerenciar uma equipe pequena exige habilidades diferentes das necessárias para liderar uma organização com dezenas ou centenas de colaboradores.

Quando a empresa escala, o líder precisa sair do papel operacional e assumir uma postura mais estratégica, ou seja, atuar como um verdadeiro CEO.

Isso significa aprender a delegar, construir times autônomos, estabelecer metas claras, acompanhar indicadores e, principalmente, tomar decisões com base em dados e visões de longo prazo.

Aqui, o conceito de liderança autêntica ganha relevância. O líder do futuro é aquele que combina razão com emoção, técnica com escuta ativa, controle com confiança.

Em uma organização em expansão, liderar com autenticidade é mais do que um diferencial, é uma necessidade.

Como o conselho consultivo fortalece a liderança e promove maturidade organizacional?

Um dos instrumentos mais eficazes para elevar o nível de maturidade da gestão é a criação de um conselho consultivo.

Diferente do conselho de administração, o conselho consultivo não tem poder deliberativo, mas oferece algo ainda mais valioso: orientação estratégica e suporte à liderança.

Ao contar com conselheiros experientes, a empresa ganha acesso a visões externas, especializadas e isentas. Isso ajuda a:

  • Descentralizar decisões importantes;
  • Reduzir a dependência de uma única figura de liderança;
  • Identificar riscos antes que se tornem crises;
  • Estimular a cultura de prestação de contas;
  • Promover uma visão sistêmica do negócio.

Conselheiros também funcionam como mentores da liderança. Em vez de assumir o comando, ajudam os gestores a amadurecerem suas decisões, a construírem planos sustentáveis e a navegarem pelas complexidades do crescimento.

Grandes executivos, como Bob Sternfels, CEO da McKinsey & Company, demonstram como atitudes simples, como usar o humor ou promover caminhadas informais, podem ser aliadas poderosas da liderança.

Essas práticas, longe de banalizar a gestão, tornam o ambiente mais leve e favorecem conexões genuínas.

Sternfels acredita que o humor, por exemplo, é uma ferramenta que comunica vulnerabilidade e acessibilidade, características essenciais de líderes autênticos.

Situações comuns: empresas que travam por medo de perder o controle

Um dos principais bloqueios que encontramos em empresas familiares em crescimento é o medo de perder o controle.

Os fundadores, muitas vezes, resistem à ideia de compartilhar decisões ou trazer conselheiros externos por receio de perder autoridade ou de comprometer a cultura original da empresa.

Contudo, esse receio pode custar caro. Empresas que recusam o fortalecimento da governança tendem a travar quando enfrentam:

Exigências de auditoria ou compliance em processos de expansão;

  • Dificuldades sucessórias;
  • Conflitos familiares internos;
  • Crises reputacionais;
  • Perda de agilidade em processos operacionais.

Em minha atuação como consultor e conselheiro, tenho acompanhado de perto casos em que a introdução do conselho consultivo foi o divisor de águas.

O que antes era uma liderança centralizadora, passou a evoluir para uma gestão mais estratégica, com decisões baseadas em dados e em visões pluralizadas.

O resultado? Maior longevidade e mais segurança para os próximos ciclos de crescimento.

Governança em empresas familiares: o investimento mais subestimado

Não é raro vermos empresários investirem em expansão física, tecnologia ou marketing, mas deixarem a governança em segundo plano. No entanto, este costuma ser um erro crítico.

Gosto de destacar que uma governança bem estruturada em empresas familiares é o fator que define sua longevidade no mercado.

Empresas com práticas de governança e planejamento estratégico têm maior resiliência em crises e mais capacidade de adaptação a novos contextos.

Diante disso, vale refletir: sua empresa está crescendo de forma saudável ou apenas inflando sua estrutura sem sustentação na base?

O conselho consultivo como ponte entre crescimento e sustentabilidade

Chega um momento em que crescer não é mais suficiente. É preciso crescer com responsabilidade, estratégia e visão de futuro.

O conselho consultivo é esse elo entre a operação que performa e a organização que pensa no amanhã.

É ele que garante que a governança em empresas familiares acompanhe a expansão, preparando a liderança para os novos desafios, e não apenas apagando incêndios do dia a dia.

Se a sua empresa cresceu, mas os processos continuam os mesmos, se as decisões ainda são tomadas “no feeling” e a liderança se sente sobrecarregada, talvez seja hora de repensar a estrutura de governança.

A boa notícia é que nunca é tarde para começar. E contar com conselheiros experientes, pode ser o primeiro passo para garantir que o sucesso não se transforme em vulnerabilidade.

Carlos Moreira - Há mais de 35 anos atuando em diversas empresas nacionais e multinacionais como Manager, CEO (Diretor Presidente), CFO (Diretor Financeiro e Controladoria), CCO (Diretor Comercial e de Marketing). e Conselheiro Administrativo.

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